segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Papo roxo X Papo amarelo: a violência política em Catalão entre 1890 a 1950

MATERIAL DE APOIO: história de Catalão GO

Tema 03: Papo roxo X Papo amarelo: a violência política em Catalão


1 Quem eram os papos roxo e amarelo

Maurílio Netto, Itamar Netto, Ataliba Paranhos (Tatá).
Homero Paranhos, Lírio Paranhos e Magdal Paranhos.
Nos fins do século IXX (1890-1900) e primeiros anos do início do século XX (1900-1950) nossa cidade era dominada por violentas rixas entre famílias e seus partidos políticos. A disputa política entre duas importantes famílias em Catalão é narrada pela professora Mariazinha Campos em seu livro de 1979.
“Velhas rixas políticas entre Paranhos e Andrades, que provocaram os dois fogos e a morte de dois principais políticos de nossa região, de um delegado e de Antero da Silva Costa”
         Os “dois fogos” citados pela professora Mariazinha Campos foram conflitos armados entre dois grupos políticos dominantes: Família Paranhos e o outro de Capitão Andrade.  Estes dois grupos eram conhecidos como “Papo roxo e Papo Amarelo”, apelidos dados devido a cor das chapas de latão das carabinas dos jagunços e capatazes, que eram protegidos ou filiados aos partidos.
Quarto de Mariazinha Campos preservado
no Museu Cornélio Ramos

         Os Papo Amarelo eram as famílias e cidadãos filiados ou simpatizantes do partido Democrata, representados em Catalão por Ayres e Cristiano Vitor. O Papo Roxo eram aqueles que filiados ao partido Republicano, as famílias: Paranhos, Campos e Neto.
         A rixa entre as famílias era tamanha que não se plantavam nem flores amarelas nos jardins de uma família papo roxo, e vice e versa. As famílias vestiam as cores dos partidos que defendiam. Uma das mais famosas “papo roxo” foi a própria professora Mariazinha Campos, como podemos ver em seu quarto no Museu Cornélio Ramos, onde até mesmo os acessórios de cabelo à roupa de cama era da cor roxa.
Os dois grupos políticos dominavam o cenário político da cidade, ambos formados por famílias ricas, poderosas e com muita influência política na região. De filiações políticas bem diferentes os dois grupos se alternavam no mando local, sempre disputando qual das famílias era a mais poderosa.

1º e 2º Fogo: conflitos registrados entre os dois partidos

         Segundo a professora Mariazinha Campos o 1º fogo ocorreu em 1892 nas ruas de Catalão. O tiroteio entre os dois partidos foram em razão das eleições municipais para prefeito. Mariazinha conta que era permitido as mulheres transitarem durante o tiroteio, pois elas levavam armamentos e alimentos para os dois grupos durante o impasse.
         O 2º tiro, também ocorreu nas ruas catalanas, como é narrado pela professora Mariazinha “Em 1895, houve o 2º fogo, isto é, o segundo tiroteio nas ruas catalanas, o que provocou verdadeiro pânico nas ruas de Catalão”. Percebemos que tanto no primeiro como no segundo tiro, a população de Catalão era feita de refém da instabilidade de pessoas obstinadas em mantar o mando local.

O assassinato do Senador Paranhos
Senador Ricardo Paranhos e sua esposa Cota

         Os eventos que desencadearam o 2º tiro ocorreram em razão da violência, principal ferramenta de “resolução” de problemas na cidade de Catalão. O Sr. Felipe Estrela, marido da neta do Senador Paranhos, atira com arma de fogo em Carlos Andrade e este lhe promete vingança.
         Mariazinha Campos narra que a vingança não foi direcionada a Felipe, mas sim ao Senador Paranhos, que sofre uma emboscada de jaguços de Carlos Andrade em frente a sua residência. Por três dias a casa do capitão é cercada pelos Papo Roxo, e fogem, mas são logo capturados. Após ser preso o Capitão Carlos Andrade tenta fugir e é torturado e morto.

Salomão Paiva: o coronelismo e o voto de cabresto em Catalão

         Mariazinha Campos descreve o chefe do executivo municipal como um homem violento, beberrão e arruaceiro. Segundo seus relatos, durante a noite saia para beber e atirar nas lâmpadas elétricas da cidade, como ele próprio era o Intendente Municipal mandava repor as lâmpadas que ele mesmo havia atirando com seus comparsas na noite anterior.
Paiva não respeitava ninguém, nem mesmo o próprio delegado. Populares contam que Paiva em um ocasião para medir forças com o delegado local entrou a cavalo na residência do delegado Furtado Mendonça. Catalão, devido ao seu histórico de violência, somente confirma a fama que a cidade sob o controle de um homem violento, também seria violenta, e é como ficou conhecida em todo o estado de Goiás.
“Um período difícil e triste para a história de Catalão. Ao substituir o pai, foi eleito as custas de violência, pois na época, o voto era descoberto e o eleitor que não precisava ler, votava publicamente, com o elemento ao lado lhe forçando o voto” (CAMPOS, 1979, 107p.).
Assim como viveu Salomão Paiva morreu. Suas rixas políticas com os Sampaio levaram a sua morte, e também a de seu jagunço particular que chamavam de “Caldeira”.

O assassinato de Antero Costa

         Cornélio Ramos, memorialista de nossa cidade nos conta que tudo se inicia com o assassinato de Albino Felipe de Oliveira, fazendeiro muito rico morto por uma emboscada de jaçunços em 26 de maio de 1936. O assassinato de Albino causou um grande tumulto na cidade, seus companheiros queriam o autor do assassinato e pressionavam o franco poder policial de Catalão na época para que eles o entregassem.
         O grupo de fazendeiros cercados de jagunços torturam o filho de Albino, João Albino acusado de mandar matar o pai para o receber a herança. Mesmo após horas de tortura João não confessou. Na busca de incriminar alguém, o grupo prendeu o jagunço Teodomiro Gomes, conhecido como Chico Prateado, que após tortura diz ao grupo que o mandante foi Antero, que é preso para averiguações.
         Chico Prateado trabalhava eventualmente como cobrador de Antero, e devido uma grande dívida que Antero tinha com Albino concluiu-se que ele era o mandante do crime e saíram a sua busca. O grupo invade a delegacia e arranca Antero de sua cela. O grupo automaticamente se nomeia como aqueles que julgariam Antero e amaram seu pescoço e mãos e o levaram a pontapés e empurrões, pelas ruas de Catalão. No dia 16 de agosto de 1936 entre as 23:00 e 24:00 da noite Antero é assassinado.
                 
        
Fonte: CAMPOS, M. das D. Catalão: estudos históricos e geográficos, Goiania (1979)
NASCIMENTO, F. do R. CATALÃO: sua história pensada através do imaginário coletivo. UFG, 1992.
CRULS, L. Relatório Cruls: Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. 7ª ed.

Senado federal: Brasília, 2003. vol. 22.

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