MATERIAL DE APOIO: história de
Catalão GO
Tema 03: Papo roxo X Papo amarelo:
a violência política em Catalão
1 Quem eram
os papos roxo e amarelo
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Maurílio Netto, Itamar Netto, Ataliba Paranhos (Tatá). Homero Paranhos, Lírio Paranhos e Magdal Paranhos. |
Nos fins do século IXX (1890-1900) e primeiros anos do início do século
XX (1900-1950) nossa cidade era dominada por violentas rixas entre famílias e
seus partidos políticos. A disputa política entre duas importantes famílias em
Catalão é narrada pela professora Mariazinha Campos em seu livro de 1979.
“Velhas rixas políticas entre Paranhos e Andrades, que provocaram os dois fogos e a morte de dois principais
políticos de nossa região, de um delegado e de Antero da Silva Costa”
Os “dois fogos” citados pela professora
Mariazinha Campos foram conflitos armados entre dois grupos políticos
dominantes: Família Paranhos e o outro de Capitão Andrade. Estes dois grupos eram conhecidos como “Papo
roxo e Papo Amarelo”, apelidos dados devido a cor das chapas de latão das carabinas
dos jagunços e capatazes, que eram protegidos ou filiados aos partidos.
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Quarto de Mariazinha Campos preservado no Museu Cornélio Ramos |
Os Papo Amarelo eram as famílias e cidadãos
filiados ou simpatizantes do partido Democrata, representados em Catalão por
Ayres e Cristiano Vitor. O Papo Roxo eram aqueles que filiados ao partido Republicano,
as famílias: Paranhos, Campos e Neto.
A rixa entre as famílias era tamanha
que não se plantavam nem flores amarelas nos jardins de uma família papo roxo,
e vice e versa. As famílias vestiam as cores dos partidos que defendiam. Uma das
mais famosas “papo roxo” foi a própria professora Mariazinha Campos, como
podemos ver em seu quarto no Museu Cornélio Ramos, onde até mesmo os acessórios
de cabelo à roupa de cama era da cor roxa.
Os dois grupos políticos dominavam o cenário político da cidade, ambos
formados por famílias ricas, poderosas e com muita influência política na
região. De filiações políticas bem diferentes os dois grupos se alternavam no
mando local, sempre disputando qual das famílias era a mais poderosa.
1º e 2º Fogo:
conflitos registrados entre os dois partidos
Segundo a professora Mariazinha Campos
o 1º fogo ocorreu em 1892 nas ruas de Catalão. O tiroteio entre os dois partidos
foram em razão das eleições municipais para prefeito. Mariazinha conta que era
permitido as mulheres transitarem durante o tiroteio, pois elas levavam
armamentos e alimentos para os dois grupos durante o impasse.
O 2º tiro, também ocorreu nas ruas catalanas,
como é narrado pela professora Mariazinha “Em 1895, houve o 2º fogo, isto é, o
segundo tiroteio nas ruas catalanas, o que provocou verdadeiro pânico nas ruas
de Catalão”. Percebemos que tanto no primeiro como no segundo tiro, a população
de Catalão era feita de refém da instabilidade de pessoas obstinadas em mantar
o mando local.
O assassinato
do Senador Paranhos
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Senador Ricardo Paranhos e sua esposa Cota |
Os eventos que desencadearam o 2º tiro
ocorreram em razão da violência, principal ferramenta de “resolução” de problemas
na cidade de Catalão. O Sr. Felipe Estrela, marido da neta do Senador Paranhos,
atira com arma de fogo em Carlos Andrade e este lhe promete vingança.
Mariazinha Campos narra que a vingança
não foi direcionada a Felipe, mas sim ao Senador Paranhos, que sofre uma
emboscada de jaguços de Carlos Andrade em frente a sua residência. Por três
dias a casa do capitão é cercada pelos Papo Roxo, e fogem, mas são logo
capturados. Após ser preso o Capitão Carlos Andrade tenta fugir e é torturado e
morto.
Salomão Paiva:
o coronelismo e o voto de cabresto em Catalão
Mariazinha Campos descreve o chefe do
executivo municipal como um homem violento, beberrão e arruaceiro. Segundo seus
relatos, durante a noite saia para beber e atirar nas lâmpadas elétricas da
cidade, como ele próprio era o Intendente Municipal mandava repor as lâmpadas que
ele mesmo havia atirando com seus comparsas na noite anterior.
Paiva não respeitava ninguém, nem mesmo o próprio delegado. Populares
contam que Paiva em um ocasião para medir forças com o delegado local entrou a
cavalo na residência do delegado Furtado Mendonça. Catalão, devido ao seu
histórico de violência, somente confirma a fama que a cidade sob o controle de
um homem violento, também seria violenta, e é como ficou conhecida em todo o
estado de Goiás.
“Um período difícil e triste para a história de Catalão. Ao substituir o
pai, foi eleito as custas de violência, pois na época, o voto era descoberto e
o eleitor que não precisava ler, votava publicamente, com o elemento ao lado
lhe forçando o voto” (CAMPOS, 1979, 107p.).
Assim como viveu Salomão Paiva morreu. Suas rixas políticas com os
Sampaio levaram a sua morte, e também a de seu jagunço particular que chamavam
de “Caldeira”.
O assassinato
de Antero Costa
Cornélio Ramos, memorialista de nossa
cidade nos conta que tudo se inicia com o assassinato de Albino Felipe de
Oliveira, fazendeiro muito rico morto por uma emboscada de jaçunços em 26 de
maio de 1936. O assassinato de Albino causou um grande tumulto na cidade, seus
companheiros queriam o autor do assassinato e pressionavam o franco poder
policial de Catalão na época para que eles o entregassem.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhU1Z1dsZ5mR8zEcgPO4cIvhYVN50D7VmqVMWfzTZlGiQf8pEAACd1DuzrFDDq6E9Y6xlwZRqDjsJSKtGUlXtOrNGFz2OQFp2qUh-5bgltibdb8wH6hmLNO40LilSIq3eElPlFBpZhOX09k/s200/Antero.jpg)
Chico Prateado trabalhava eventualmente
como cobrador de Antero, e devido uma grande dívida que Antero tinha com Albino
concluiu-se que ele era o mandante do crime e saíram a sua busca. O grupo
invade a delegacia e arranca Antero de sua cela. O grupo automaticamente se
nomeia como aqueles que julgariam Antero e amaram seu pescoço e mãos e o levaram
a pontapés e empurrões, pelas ruas de Catalão. No dia 16 de agosto de 1936
entre as 23:00 e 24:00 da noite Antero é assassinado.
Fonte:
CAMPOS, M. das D. Catalão: estudos históricos e geográficos, Goiania (1979)
NASCIMENTO,
F. do R. CATALÃO: sua história pensada através do imaginário coletivo. UFG,
1992.
CRULS, L.
Relatório Cruls: Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. 7ª ed.
Senado
federal: Brasília, 2003. vol. 22.
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